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Entrevista cedida ao A Hora da Cirurgia Plástica – nº78, mai-jun 2004

Farid Hakme é sem duvida uma figura polêmica dentro da SBCP. Interiorano de São Paulo, “exilou-se” no Rio de Janeiro e aqui se fez como um dos mais influentes cirurgiões plásticos brasileiros. Dono do atual Hospital da Plástica – outrora Interplástica –, Farid já ocupou todos os cargos diretivos possíveis, desde a AexPI até a SBCP. Este é o homem da vez. Este é o homem de citações antológicas políticas como: “E eles acreditaram que eu era um homem de um voto só”. Para este brilhante e polêmico cirurgião, perguntamos:

Farid, seu sucesso pessoal e profissional é inquestionável, todos o vêem e o admiram por isto. A garra de vencer o trouxe até aqui. A sua herança é os seus três filhos e já um futuro neto, Bernardo. O que muda?

As mudanças quando não são sentidas, são melhores. Acredito muito na evolução das coisas. Alguns criam, outros evoluem. Classifico-me como uma pessoa que gosta de evoluir, de conhecer o novo, sem desqualificar o passado. Para alcançar um objetivo é necessário dar uma caminhada de mil léguas e para isso é preciso dar o primeiro passo. Mas, nunca esquecendo o ditado: “os últimos serão sempre os últimos”.

Todos nós que somos filhos e todos aqueles que frequentam o Hospital da Plástica sabemos de sua paixão pelo Brizola. O que melhora e o que piora no Brasil com a ausência do caudilho?

Brizola deixou um legado para a história inquestionável. Quando iniciou sua carreira política no Rio Grande do Sul, vindo depois para o Rio de Janeiro, sua preocupação sempre foi à educação. Colocando uma criança no colégio pela manhã com três refeições por dia e oferecendo cultura e esporte, elas não teriam tempo de ficar em casa ou nas ruas e isso, em longo prazo mudaria o perfil da sociedade brasileira. Associou-se com Niemeyer, fez o Sambódromo, a linha Vermelha e, claro, os CIEPS. Infelizmente com a sua desestrutura familiar na velhice, tornou-se um ancião ranzinza e chato, mas felizmente, quando morreu todos se lembraram de sua grandeza e poucos recordaram as suas chatices.

Farid Hakme é ainda um grande batalhador pela SBCP. Como presidente por duas gestões, enfrentou inúmeras situações de conflito e soube administrar com maestria egos inflamados. Como conselheiro, o que pode nos atualizar sobre o episodio Ewaldo x Garcia, que este jornal considera de importância para a saúde mental de nossa sociedade?

Quando presidente da SBCP, contei com a ajuda de Ewaldo Bolívar e de Luiz Carlos Garcia. Coloquei Garcia como meu sucessor, inclusive enfrentando um processo judicial dos que não queriam a sua eleição. Ganhei a liminar na justiça e o Garcia tomou posse. Tão logo eleito, Garcia demitiu os auditores e contadores que prestavam serviço a SBCP há mais de 20 anos (França e Milanesi) e trouxe do Rio Grande do Sul uma firma de contabilidade e auditoria – Legal Care.

Levantou uma bandeira de ética e moralidade, cobrando de todas as Regionais que todas as despesas tivessem comprovantes em notas fiscais. Quando entregou o cargo, a nova firma de contabilidade e auditoria contratadas pela diretoria de Sergio Carreirão, constatou gastos sem comprovantes com notas fiscais. Tenho certeza que Garcia vai conseguir explicar todas estas contas que estão pendentes e o conselho fiscal da SBCP e a auditoria contratada irão aprová-la. Quanto a Ewaldo Bolívar, talvez seja o médico que mais contribuiu para o engrandecimento de nossa sociedade. Tentou ficar sob a proteção do guarda-chuva da SBCP na gestão Garcia, mas o Garcia preferiu fechar o guarda-chuva. Ewaldo é maior que todas as coisas que estão acontecendo. O seu legado é inquestionável. Mas que ele exagera, ele exagera.

Se fosse um poema, como Farid Hakme se descreveria e por quê? E se fosse uma música? E se fosse um filme? E se fosse uma das sete maravilhas do mundo? E se tivesse a máquina do tempo onde estaria?

Eu consigo me descrever como um jovem do interior de São Paulo (José Bonifácio – SP), que veio estudar no Rio de Janeiro aos 15 anos para depois voltar para a sua querida cidade natal e ser líder político (sonho de meu pai). Comecei a fazer psicanálise quando estudante e descobri que queria ser cirurgião plástico. Foi o primeiro choque de cultura, pois meu pai me esperava de volta como jovem médico recém formado. Minha família conseguiu me levar para São Paulo capital, onde fiquei um ano na USP, mas o desejo de voltar ao Rio foi maior e aqui estou eu há quase 50 anos, fazendo o que gosto, cirurgia plástica. Meu poema é: “tratar a derrota e o triunfo da mesma forma, estes dois impostores” (Kipling). Minha musica é “My way”, eu a fiz a minha maneira. E se eu tivesse uma máquina do tempo, eu diria que a maior sacanagem do mundo é desperdiçar a juventude com os jovens. Agora que já sei tanto, vejo a juventude me escapar pelos dedos. Quanto às sete maravilhas do mundo, eu deixo para o Prof. Ivo Pitanguy responder.

Hakme é de origem libanesa, tem uma certa admiração pelo mundo judeu e tem formação cristã vinda do interior. Qual é, enfim, a sua crença? No Deus uno, no Deus de Abrahão, em Alá, Maomé ou crença mesmo só no money in the pocket?

 

Minha genética é libanesa-católica, com convivência desde pequeno com os rabinos (judeus) que iam benzer a carne nos frigoríficos em José Bonifácio para enviá-las a Israel. Acho a espiritualidade muito importante e vejo atualmente que os evangélicos são os que mais desenvolvem esta prática. Quanto ao dinheiro, não traz felicidade, mas paga as despesas que a felicidade faz. De dinheiro não entendo nada, só sei ganhar muito dinheiro, mas também, graças a Deus, sei gastá-lo todo.

 

 

Este é o polêmico Farid Hakme, homem cuja mente não descansa, pois cicla a 10.000 rpm quando calmo. Homem que administra o maior hospital de cirurgia plástica do mundo. O homem da vez. Flora, valeu a força.

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